Uma das coisas mais interessantes que eu aprecio na Arte Marcial Russa (Systema) e que me encantou logo de cara (talvez também um pouco pelo meu perfil pessoal) é que pensamos de forma estratégica. Esse é um ponto que, pelo menos eu como Professor, não abro mão e eu ensino a meus alunos.
Para o Leitor que não está familiarizado com o Systema, explico que estamos falando de uma fórmula de combate fluída e não de Arte Marcial tradicional (esportiva ou não) com ênfase em golpes ou de uma luta franca com regras claras e conhecidas. A saber, não tem Arte melhor ou pior, é questão de preferência pessoal.
Não só na aula, mas expansível para outras situações da vida, procuro sempre explicar concomitante ao demonstrar “o como e o porquê estou fazendo cada coisa”. Não gosto de usar a palavra golpe, mas vou usar para melhor entendimento. Minha proposta é desenvolver o raciocínio, mentalidade correta e fazer com que a Pessoa entenda:
Porque eu o(a) “peguei” (meu golpe funcionou).
Quando estou treinando com a pessoa - o que ela deve fazer para o seu “golpe entrar”, daqui a um ou dois movimentos.
Questiono o que a pessoa estava pensando quando “fez o que fez” (ou porque resolveu entrar com o golpe)
O que fiz para desestruturar sua estratégia, pensamento, movimento, concentração, o emocional, a respiração, seu golpe, etc.
O que eu pensei em cada uma das opções acima, fazendo os ajustes didáticos e enriquecendo a experiência do Aluno(a).
Desta forma eu procuro mostrar como a minha mente pensa e monta as estratégias em tempo real (naquele instante, de forma consciente) e a minha capacidade de ajustar e mudar de forma instantânea (e inconsciente).
Com esse raciocínio, e através de alguns exercícios e vídeos interessantes disponíveis na internet ensino e incentivo para que todos façam a leitura e análise situacional de diversos cenários de forma ampla e não só em termos de “soco e pontapé”, analisando o ambiente, personagens da cena, conteúdo, objetos e narrativa da cena; noção tempo-espaço, o que está se configurando, padrões, análise preditiva, ajustes feitos e porquê, e principalmente as estratégias de cada uma das partes estão adotando e o que deu certo e o que nem tanto, entre outras coisas.
Desta vez um dos alunos mandou no nosso grupo um vídeo bem diferente. Aparentemente você acharia que é uma cena comum da selva, mas se assistir com o olhar certo e uma mentalidade estratégica você pode captar uma série de informações importantes. São dois personagens protagonistas no contexto onde vivem, que pensam e agem diametralmente de maneira diferente.
Assista o vídeo, de forma estratégica, anote algumas das “mensagens” que ele passa e depois compare com o que eu vi. Para o texto não ficar muito extenso me limitei a 50 tópicos, mas tem mais alguns que na 2ª passada do vídeo eu percebi.
Quem sabe aumentamos a lista com a sua contribuição! Aceita fazer o exercício?
(Crédito: internet - Facebook)
Sem mais demora vamos aos 50 pontos:
1) Não basta ser grande, tem sempre alguém maior que você.
2) Tamanho e peso fazem diferença sim.
3) Sua técnica tem que ser muito boa para sobrepujar o tamanho do outro.
4) Não importa se a sua arma é maior do que a dele (chifre do rinoceronte) se não
souber como usar direito a arma pequena dele (presa pequena do jovem
elefante) vai te dar cabo.
5) Você pode até bater forte, mas não garante que o outro vai sentir e se intimidar.
6) Se levantar rápido é fundamental.
7) Ficar parado no chão é bom só em esportes, com regras e juiz. Na rua a regra é
outra.
8) Não é porque você está no chão que ele não vai te atacar.
9) A posição (e uma visão) superior é sempre melhor do que a deitada no chão.
10) Se o cara é grande, não importa o que você faça, se ele puder te atropelar ele o
fará.
11) Ficar encarando de frente alguém maior do que você, medindo forças é loucura.
12) A estratégia é superior a tudo, mas lembre-se que o seu oponente também tem a
dele. Tanto no combate quanto na vida real e profissional não subestime a
capacidade do outro, do grupo (Seu ou de terceiros), da sua concorrência, etc.
13) A capacidade de fazer uma previsão do outro, suas potencialidades e
vulnerabilidades conforme o desenrolar, é tão essencial quanto o que você
pretende fazer.
14) Rinoceronte: se você não conhece seus limites (o rinoceronte não enxerga bem de
dia) então não vá arrumar confusão de noite !
15) A probabilidade de você se dar mal é imensa quando você não se adaptar ao que
está acontecendo e ao meio.
16) Quem tem mais calma e estratégia (o elefante) geralmente tem mais chance de se
dar bem do que um esquentadinho (o rinoceronte).
17) Não tem sentido combater por combater se não tem nada importante em risco
(sua integridade pessoal, sua família, etc.). O Rinoceronte foi marrento e se deu
mal.
18) Não existe problema nenhum em fazer uma retirada estratégia. Seu Ego é seu
pior inimigo.
19) Ao encarar um inimigo superior à sua estratégia atual, necessariamente você tem
que rever melhor sua. E rápido, antes que “realmente precise”!
20) Não basta só ser grande, tem que se conhecer, saber a hora de agir e quando for
é “sem temor”.
21) Ninguém tem medo de vãs ameaças.
22) Se você puder sair sem ferimentos melhor. Amanhã é outro dia.
23) Se você for vá com tudo, senão nem cogite.
24) Pagar pra ver, esperar ou ficar as vezes não é a melhor estratégia.
25) Ficar na frente é a pior estratégia que existe.
26) O movimento é superior a tudo e a respiração ilumina a mente.
27) Em briga de 2 gigantes, nem a turma do deixa disso chega perto pra apartar.
28 ) Se você não sabe gerenciar e usar o espaço ao seu redor e se posicionar direito
então é melhor nem começar.
29) Não é porque é pequeno que não é valente, pode até se dar bem na maioria das
vezes e situações, mas “as vezes” não é sempre. Tudo depende da situação.
30) Você precisa entender quem está no topo da cadeia, e se não é você então é
melhor ser amigo de quem é ou no mínimo, não se indispor com ele.
31) Rinoceronte: não adianta ser mais rápido se você não sabe usar isso ao seu favor.
32) Fazer no Timming é “tudo”.
33) Se alguém está te dando sinal que vai te atacar porque não confiar nos sinais?
Porque não prestar atenção, pelo menos minimamente? Não é só com a voz que
se comunica. O corpo “fala” (ou até “grita”!).
34) Não vai mexer com quem está quieto. Até o pacato tem seus limites.
35) Ninguém sabe a extensão das lesões depois que começa a briga.
36) Não existe fair play na selva nem nas ruas quando se perde a cabeça. Na selva
não tem penicilina, na vida real pode ser que ela não chegue a tempo ! Avalie
antes.
37) O elefante deu o recado: o auto controle é essencial, fazer o que precisa ser feito
na medida certa, mantendo a temperatura correta.
38) Se ele te deu oportunidade para se evadir, e se esta opção for melhor, então evada
e rápido.
39) Se você percebe que o oponente está com a testosterona a mil e está “te avisando”
e você não tem a calma para fazer a análise situacional e avaliar se vale a pena
então existe uma probabilidade de se dar mal. Se você não sabe gerenciar o que
vai acontecer então é melhor virar as costas e ir embora.
40) Só um tolo entra numa briga achando que alguém depois vai te ajudar de graça.
41) Se você vai encarar um valentão bem maior do que você então melhor levar a
turma!
42) Se você não sabe fazer leitura de cenário (e do que está realmente acontecendo)
então é melhor você assistir as cenas iniciais de batalha do filme O Gladiador. Tem
que ir lá ver, pois o filme é top e é uma aula de estratégia... não vou dar spoiler...
rsrsrsr.
43) Fazer coisas criativas e inesperadas é muito bom, desde que você domine a arte
de improvisar e não se exponha loucamente. Improvisar é uma arte e precisa
muito conhecimento.
44) Se você não ficar calmo no final toda a sua técnica mais refinada vai virar “soco e
pontapé” de qualquer jeito.
45) O Rinoceronte não soube usar o meio a seu favor. Ele teria mais chance se
conseguisse levar o elefante para um local onde ele não conseguisse se mexer
direito.
46) O Rinoceronte não analisou os pontos fracos do Elefante: tem mobilidade e
rapidez? Elefante dá coice? Vira rápido para os lados? E a lateral da barriga? Etc.
47) O elefante analisou e sabia qual era o ponto fraco do Rinoceronte.
48) O Elefante é esperto, mas humilde, não ficou se gabando. Depois da “treta” se
recolheu atrás da moita. Afinal, estava sendo filmado.
49) Elefantes são territorialistas e muito inteligentes. Ele sabia que os humanos
estavam vendo? Sim. Poderia atacar os humanos? Sim, afinal de contas estão
relativamente perto e no seu território, mas não o fez. Ele sabe o lugar dele na
hierarquia das coisas. Ele olhou para os humanos, fez que não viu e se retirou. Ele
é grande, mas sabe que isso não é tudo. Antes de tudo ele é esperto.
50) O Elefante é o verdadeiro "rei" da Selva (o rinoceronte ignorou isso), ele sabe que
não tem pra ninguém e se ninguém vier mexer com ele, respeitando seu espaço,
quem sabe se ele pode vir a ser até ser seu “amigo”, ajudar a te proteger de quem
quer realmente te devorar.
Esta é uma das várias estratégias de aprendizado que usamos. Na real não importa o vídeo, importa a lição que você pode extrair dela e de preferência aplicar o conhecimento no momento certo.
É obvio que analisar uma cena que já aconteceu é muito mais fácil do que uma que está acontecendo “agora”. Mas será que é tão difícil assim para quem está um pouquinho mais treinado e presta mais atenção? Será que precisamos ficar tensos e estressados (por exemplo ao andar na rua ou em um novo ambiente) ou de tanto treinar a mente (como por exemplo esse exercício) isso passa ser mais “facilitado e fluído” no dia a dia?
Esse é o desafio. Não é se você estará ou não em uma situação de risco e nem se é ou se sente “intocável” pelo tamanho e importância do que você sabe. É muito mais do que isso.
Para finalizar quero dizer que “a rua é soberana”. Quem tem a capacidade de prestar atenção ao meio ambiente (seja ele qual for), extrair e interpretar dele as informações que são passadas já têm uma vantagem imensa em relação aos outros.
Melhor é ter esse conhecimento e não precisar, do que precisar e não ter.
“Ou você tem uma estratégia própria ou então é parte da estratégia de alguém”.
(Alvin Toffler) “Guerreiros vitoriosos primeiro vencem depois vão para a batalha. Guerreiros derrotados vão para o campo de batalha primeiro e depois tentam descobrir um jeito de vencer”. (Sun Tzu)
Prof. Carlos Pimenta (Empresário, Hipnólogo Clinico especializado em Doenças e Dores Crônicas Emocionais, Acupunturista e Massoterapeuta, Terapeuta Integrativo entre outros, Instrutor Pleno de Systema - Arte Marcial Russa, Psicanalista) Site: www.espacofuncional.com.br/terapias Instagram: @espacoterapiasassociadas e @prof.carlos.hipnoterapia WhatsApp: (11) 9.7598-8001 - Fone: (11) 3021-6769
(*) Vídeo: crédito do vídeo Internet - Facebook.
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